terça-feira, 5 de outubro de 2010

Depois que a poeira do primeiro turno baixou, a situação é a seguinte...

Passado o primeiro turno, com todos os resultados já consolidados (a não ser, claro, a indefinição acerca do destino dos candidatos com ficha suja), algumas reflexões importantes se impõem diante do cenário político que emerge após domingo, e para as quais gostaria de chamar a sua preciosa atenção.
Em primeiro lugar, é preciso destacar a importância do voto evangélico para que a eleição deste ano fosse para o segundo turno. Segundo pesquisa Ibope publicada no primeiro caderno do jornal O Estado de São Paulo de sábado, dia 2 de outubro, ao qual me referi na última postagem, depois que a questão do apoio de Dilma Rousseff ao aborto foi popularizada, a candidata petista perdeu sete pontos no meio evangélico faltando dois dias para a eleição (O resultado do levantamento foi publicado no dia 2, mas saíra no dia 1). E a mesma pesquisa asseverava que, simultaneamente, constatava-se também que subira o apoio dos evangélicos aos candidatos José Serra e Marina Silva. Ou seja, o fator evangélico foi muito importante. E tanto foi que, desde ontem, Dilma e seus assessores já saíram em busca do apoio evangélico com mais força.
Na segunda-feira, mais uma vez Dilma afirmou que é “a favor da vida” – o que não significa nada em seu caso, porque todas as vezes em que afirmou isso durante debates nesta eleição o fez afirmando concomitantemente que aborto, para ela, é “questão de saúde pública”. Quando a pessoa diz que é “pessoalmente contra”, mas acha que “a questão deve ser tratada como caso de saúde pública”, está querendo dizer, querido leitor, que é a favor da legalização do aborto. Ponto.
Além disso, como já informamos aqui, Dilma afirmou que é a favor da legalização do aborto no Brasil na sabatina da Folha de São Paulo em 2007 (Ocasião em que, inclusive, ressaltou que ser contra a descriminalização do aborto é “um absurdo” - Veja aqui); em abril de 2009, em entrevista à revista Marie Claire (Leia aqui); e em maio deste ano, na sabatina do Encontro de Editores da revista Istoé (Veja aqui). E como se não bastasse, o PNDH 3, publicado em forma de decreto em 21 de dezembro de 2009, e cujo texto passou pela Casa Civil, propõe a legalização do aborto em nosso país, considerando-o um “direito humano”; o programa original de governo de Dilma Rousseff para presidente propunha a legalização do aborto (Depois, ela pediu para alterar o programa, cujas páginas haviam sido assinadas por ela, cada uma); e o PT agora estuda tirar do programa do partido o apoio ao aborto (Leia aqui). Alguém acredita que o PT, pioneiro na defesa do aborto no país, atitude assumida desde 1989 (Relembre essa história mais uma vez aqui), vai deixar mesmo de lado a questão do aborto após as eleições? Alguém aí acredita em Papai Noel, no Coelhinho da Páscoa ou em Peter Pan?
Enfim, os fatos estão aí, acessíveis a todos.
Portanto, é esperado para os próximos 25 dias um assédio muito maior da campanha petista sobre os evangélicos. E dependendo do resultado das próximas pesquisas, também há o risco de uma eventual ofensiva petista contra líderes cristãos que, daqui até o dia 30, indicarem aos seus fiéis não votarem em Dilma. Se Dilma subir nas pesquisas, não se importarão. Mas, se não subir, os petistas são capazes de tentar levar o TSE a multar esses líderes cristãos que orientaram seu povo a não votar na petista. Curiosamente, há uma pesquisa polêmica do Instituto Datafolha que está sendo preparada sobre o assunto. Leia sobre isso aqui.
Em segundo lugar, se Dilma for eleita, ela terá em seu mandato um Congresso Nacional esmagadoramente governista. Os partidos de oposição diminuíram na Câmara e no Senado e os da situação, aumentaram. Só para se ter uma idéia: Das pouco mais de 80 cadeiras no Senado, 57 serão ocupadas, a partir do ano que vem, por governistas. Será um rolo compressor. E olha que estamos falando de um Congresso que contará ainda com Tiririca, Romário etc.
Em terceiro lugar, como o site CPAD News divulgou ontem de manhã cedo, a Frente Parlamentar Evangélica encolheu (Leia aqui). Em 2003, quando ela foi formada, tinha cerca de 70 membros. Depois do pleito de 2006, passou para pouco mais de 40. Agora, na melhor das hipóteses, chega a pouco mais de 30 membros, juntando Câmara e Senado. Portanto, a pressão popular passa a ser ainda mais importante nos próximos anos em uma eventual tentativa governista de votar leis que ferem os valores. Só a pressão dos parlamentares evangélicos não será suficiente. [Caros, após o final das apurações, os dados finais mostraram o contrário: Aumento da Bancada Evangélica, ainda bem! Leia sobre o assunto e conheça os eleitos aqui]
Mas, e se a oposição vencer? Ou governará com um Congresso majoritariamente oposicionista ou precisará costurar um enorme arco de alianças que lhe permita a governabilidade. Mesmo assim, como PSDB, DEM e demais partidos de oposição diminuíram no Congresso, esse arco de alianças resultará apenas em uma maioria mínima, por assim dizer. Isso se contarmos com o tradicional apoio do PMDB a quem for governo (E ao preço de muitas negociações nada agradáveis, como tem sido noticiado pela imprensa nos últimos anos). Ademais, podemos esperar, num eventual governo Serra, uma oposição muito mais agressiva e ferrenha do que a fleumática oposição ao governo Lula durante seus oito anos de mandato, oposição esta que contará ainda com o atual aparelhamento de Estado petista que, muito dificilmente, um eventual governo Serra conseguirá reduzir drasticamente. Sem olvidar que a maioria esmagadora dos governos estaduais será, nos próximos quatro anos, pró-Dilma. Em favor da atual oposição pesa o fato de que, pelo menos, os Estados em que venceram representam juntos 53% da população brasileira, o que garante um certo peso a esses governadores oposicionistas diante dos demais.
Em quarto e último lugar, só uma pequena nota: Como as pesquisas eleitorais são falhas! Falavam que Marina teria, na melhor das hipóteses, até 17%, quando teve cerca de 20% dos votos válidos (Dependendo do levantamento, ela teve de 6 a 3 pontos a mais do que se dizia); e Serra teria, no máximo, 28% dos votos válidos, quando ele teve cerca de 33% (Ou seja, Serra tinha 5 pontos a mais do que as pesquisas mostravam). Dilma? Teria de 50% a 55%, conforme variação dos últimos levantamentos. Terminou com quase 47% (De 3 a 8 pontos de diferença). Em São Paulo, todas as pesquisas mostravam o tucano Aloysio Nunes como “azarão” ao Senado, e foi eleito como o mais votado, com 3 milhões de votos a mais do que a segunda colocada, Marta Suplicy. Em outros Estados, falava-se de vitória de alguns candidatos no primeiro turno, mas a disputa acabou indo para o segundo turno. Essas pesquisas...

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