quarta-feira, 21 de julho de 2010

A praga do antinomianismo no cristianismo hodierno

Leia aqui novo artigo para a coluna O Cristão e O Mundo no site de notícias CPAD News. O tema é A praga do antinomianismo.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O perigo da aceitação acrítica de referenciais (quarta parte): Noam Chomsky

Se quisermos entender a mentalidade dominante em uma época, devemos, entre outras tarefas indispensáveis, identificar o perfil e a linha ideológica dos mais influentes intelectuais do período em apreço, posto que, sem dúvida alguma, os ícones culturais de uma época revelam muito do seu espírito.
Pois bem, o que dizer de nossa época? Em 2005, a revista britânica Prospect elegeu, numa votação que envolveu 20 mil pessoas (a maioria dos EUA e Grã-Bretanha), quais seriam os três maiores intelectuais de nossa época, os mais influentes. Resultado: em primeiro lugar, o lingüista e ativista político Noam Chomsky; em segundo lugar, o romancista e acadêmico italiano Umberto Eco; e em terceiro, o zoólogo britânico Richard Dawkins. Tal seleção é, sem dúvida, absolutamente sintomática. Demonstra com clareza qual a maré ideológica que faz a cabeça da maioria das pessoas ditas “esclarecidas” em nossos dias.
É importante frisar introdutoriamente que não estou aqui a polemizar as qualidades de Eco como romancista, as de Chomsky como lingüista ou as de Dawkins como zoólogo (apesar de muitas críticas procedentes que seus companheiros de cátedra lhes fazem). Interessa-me aqui a linha ideológica que assumem e que é, sem dúvida alguma, a razão pela qual se notabilizam como preferidos entre tantos outros intelectuais igualmente ou mais competentes desta geração.
Acerca de Dawkins e sua campanha antiteísta, já falamos algumas vezes. Para mais sobre o assunto, indico as obras O delírio de Dawkins, do professor de biofísica molecular Alister McGrath, da Universidade de Oxford, e A Linguagem de Deus, do cientista católico Francis Collins, líder do Projeto Genoma; e o documentário Expelled, que tem Dawkins como um de seus entrevistados. Imperdível. A película pode ser assistida pela internet, na íntegra e com legendas em português, aqui.
Quanto a Umberto Eco, ele é, sem dúvida, um excelente escritor e romancista, mas pesa contra ele a pregação que faz em seus textos e depoimentos a favor do relativismo cultural e moral, além de seus eventuais ranços em relação ao Cristianismo, que o levam até mesmo a cometer alguns erros históricos, como o de criar uma guerra pela Segunda Parte da Poética do filósofo grego Aristóteles no romance O Nome da Rosa em uma época em que se desconhecia até mesmo a Primeira Parte dela. Por outro lado, mesmo sendo um intelectual ateu popular, Eco não está engajado, como Dawkins, em alguma campanha mundial antiteísta. Enfim, preocupante mesmo em Eco é a sua pregação em favor dos relativismos moral e cultural, tão reincidente em seus artigos e entrevistas.
Porém, o que dizer do incensado Noam Chomsky – antissemita (mesmo tendo ascendentes judeus), defensor do carniceiro comunismo e zombador da fé cristã?
São de Chomsky as seguintes palavras: “O Deus da Bíblia não só ordenou que o seu povo escolhido acabasse com todos os amalequitas até o último homem, mulher, criança e burro. O Deus da Bíblia também estava pronto para destruir todos os seres vivos na Terra, porque algumas pessoas o irritavam. Isso é mais do que genocídio! Você não sabe como descrever essa criatura. Alguém é ofendido e por causa disso quer destruir todos os seres vivos na Terra? Isso é uma pessoa gentil e maravilhosa?”(Dito em entrevista ao jornalista Wallace Shawn em 19 de outubro de 2004. A entrevista está acessível na íntegra no próprio site de Chomsky: http://www.chomsky.info/interviews/20040917.pdf).
Ele disse ainda: “Se tivesse o poder de fazer leis contra crimes de ódio e o que inspira ódio, a primeira coisa que faria é a proibição do Antigo Testamento. Não há nada parecido no cânone literário que exalta tanto o genocídio. E eu não estou falando em tom de piada. A Bíblia é um dos livros mais genocidas da história” (Em palestra na Universidade de Houston em 18 de outubro de 2002).
Chomsky também se descreve como “socialista libertário” e “socialista anarquista”, e afirma ser fã dos anarquistas dos anos de 1936 a 1939 da Guerra Civil Espanhola. Pois bem, vejamos o que fizeram os anarquistas espanhóis nessa época, em conluio com os comunistas. O historiador Hugh Thomas, no segundo volume de sua célebre obra A Guerra Civil Espanhola, publicada pela Editora Civilização Brasileira, escreveu sobre aqueles dias: “Em tempo algum no curso da história da Europa, talvez mesmo de todo o mundo, viu-se um ódio tão apaixonado em relação à religião e às suas obras”.
Conta Thomas que só na Diocese de Barbastro os comunistas do PCE e seus colegas anarquistas mataram 123 dos 140 ministros católicos que ali residiam. Só não mataram todos porque os outros 17 conseguiram fugir. A obra de Thomas fala de “espancamentos brutais, vazamento os olhos, mutilações, queimaduras com cigarros, choques elétricos. (...) Aos frades de Cernera arrebentaram-lhes os tímpanos enfiando-lhes nos ouvidos contas de rosário. Muitos padres foram queimados vivos, outros foram enterrados com vida depois de terem sido obrigados a cavar suas sepulturas. A uma senhora, mãe de dois jesuítas, enfiaram pela boca um crucifixo. Não foram poucos os casos de pessoas atadas a um veículo e arrastadas por ele até morrer”.
Uma prática muito comum dos comunistas e anarquistas durante a Guerra Civil Espanhola foi a profanação de sepulcros. Em 20 de julho de 1936, eles invadiram diversos conventos femininos, abriram os sepulcros e expuseram os cadáveres das religiosas nas portas de suas igrejas.
Vamos aos dados finais: durante a Guerra Civil Espanhola (julho de 1936 a abril de 1939 – ou seja, 2 anos e 9 meses), foram assassinados pelos comunistas e anarquistas espanhóis 6.861 religiosos, sendo 12 bispos, 4.184 padres, 300 freiras e 2.363 monges. O historiador Anthony Beevor fala de 13 bispos, 4.184 padres, 283 freiras e 2.365 monges. Ah, sim: foram destruídas cerca de 20 mil igrejas na Espanha. Até algumas das pouquíssimas igrejas protestantes da Espanha entraram na mira por tabela.
E com isso não justifico a ditadura de Franco, que matou 60 mil pessoas durante todo o regime. Absolutamente nada justifica a carnificina que Franco fez depois. A questão é Noam Chomsky citar os anarquistas espanhóis dos anos 1936-1939 (que mataram em dois anos e nove meses cerca de 10 mil pessoas – 6.861 por sua fé) como sua referência.
Mas, as bizarrices de Chomsky não se resumem a isso. Elas se multiplicam. Em abril de 1970, Chomsky viajou ao Vietnã do Norte (comunista) e escreveu na revista The New York Review of Books que havia “um alto grau de democracia naquele país”. Detalhe: naquela época, o governo comunista já havia executado dezenas de milhares de pessoas, entre elas intelectuais do movimento literário “Arte Humanista”, que defendia a democratização do país.
Durante a Guerra Fria, Chomsky defendeu que a URSS não cometia atrocidades como todos diziam. Mesmo depois da Queda do Muro de Berlim, da abertura dos arquivos da KGB, dos arquivos do Leste Europeu que mostram dezenas de milhões de assassinatos e do testemunho em profusão de vítimas sobreviventes, de ex-comunistas e de dissidentes da URSS, ele continuou dizendo o mesmo. E quando o escritor e dramaturgo tcheco Václav Havel (defensor da resistência não-violenta contra a URSS e um dos ícones da Revolução de Veludo, tendo sido também o último presidente da Tchecoslováquia e o primeiro da República Tcheca) falou ao Congresso dos EUA em 1990 que os EUA inspiraram sua luta contra o totalitarismo soviético, Chomsky classificou sua fala como um “moralmente repugnante e embaraçosamente tolo sermão de domingo”, e acrescentou que “a Europa Oriental sob o governo da Rússia era um paraíso em comparação à violência e à tirania dos EUA”. Detalhe: sob os soviéticos, foram assassinadas 30 milhões de pessoas na Europa Oriental.
Chomsky defendeu o regime carniceiro comunista em Camboja, liderado por Pol-Polt. Quando começaram a chegar as primeiras informações do genocídio que ali ocorria nos anos 70, classificou-as de “farsa”, “invenções”, “mentiras” etc. Até depoimentos de presos cambojanos foram classificados por ele como “mentiras” e “distorção”. Pois bem, ao final do regime de Pol-Polt, foi constatado que a matança era ainda maior do que as informações que chegavam ao Ocidente. Em quatro anos de regime, Pol-Polt matou 2 milhões de pessoas de uma população de 7 milhões (Matou cerca de um terço do país em quatro anos!) e a atrocidade do regime de Pol-Polt é hoje uma das mais bem documentadas da história. Mesmo assim, Noam Chomsky nunca se retratou.
Thomas M. Nichols, professor do Departamento de Política e Estratégia da Escola Naval de Guerra dos Estados Unidos, em um dos capítulos do livro The Anti-Chomsky Reader (2004), mostra uma carta de 1990 de Chomsky ao jornalista escocês Alexander Cockburn (e revelada por este) onde Chomsky lamenta o fim da URSS e demonstra todo seu amor e admiração pelo regime soviético (sic).
E quem não se lembra de Chomsky justificando os atentados de 11 de setembro de 2001 dizendo que os EUA mereciam o que aconteceu? À época, ele afirmou que o assassinato de 3 mil pessoas pela Al Qaeda era “menos estarrecedor” do que o míssil que o presidente Clinton, três anos antes, havia ordenado ser disparado contra o que ele pensava ser uma fábrica de armas químicas no Sudão, mas que na verdade era uma pequena indústria farmacêutica daquele país. Na ocasião, morreu apenas um guarda de segurança que estava no local à noite. Confrontado pelo absurdo de suas palavras, que equiparavam a morte de uma pessoa por engano (na tentativa de destruir uma fábrica de armas químicas) com o assassinato premeditado e louvado de 3 mil pessoas pela Al Qaeda, Chomsky tentou se justificar dizendo que considerava que o míssil norte-americano era muito mais danoso porque destruiu medicamentos que, segundo ele, demorariam três meses para serem repostos, “período suficiente” para levar à morte “milhares de crianças e idosos”. E citou estimativas de grupos de Direitos Humanos para embasar seus “milhares de mortos”. O problema é que (1) esses grupos de Direitos Humanos negaram ter feito essas estimativas e (2) os medicamentos foram repostos em poucos dias, e não em três meses. Enfim, uma mentira gigantesca que define tudo que Chomsky foi até hoje: um charlatão quando o assunto é política internacional e economia.
Quando os EUA anunciaram que iriam invadir o Afeganistão para destruir o Talebã e as bases da Al Qaeda ali, Chomsky chamou a futura invasão de “genocídio”. Disse ainda que John Ashcroft era “uma ameaça maior do que Bin Laden”. Nada mais próprio de alguém que antes dissera que não achava que Milosevic era responsável pelas atrocidades pelas quais foi acusado e condenado.
O “socialista anárquico” Noam Chomsky defende Che Guevara, que matou milhares de pessoas (mais de mil só em Cuba); Fidel e Raul Castro, que mataram mais de 100 mil (sendo 17 mil no paredão por fuzilamento) em 51 anos de regime cubano; Hugo Chavez etc. Ele diz que o ato de Israel de se defender contra o terrorismo islâmico é “terrorismo de Estado” e que os atentados terroristas do Hamas e do Hezbollah são “justificáveis”; nega que o Holocausto foi “tudo isso” e defende o fim do Estado de Israel, colocando em seu lugar um Estado palestino, formado por judeus e árabes palestinos, mas governado pelos últimos. Essa proposta é absurda porque, em primeiro lugar, o Estado de Israel já é um Estado formado por judeus e árabes palestinos; e segundo, porque um Estado palestino em que os judeus deveriam se submeter à sharia dos muçulmanos (como pregam o Hamas e o Hezbollah) seria, na prática, expulsar todos os judeus dali. A população não-muçulmana dos países onde há governos que impõem a sharia poderia falar muito bem sobre o resultado dessa experiência (por exemplo, Irã e Sudão, e neste o número de mortos já chega a centenas de milhares). Não é à toa que, hoje, por causa da sua pregação pelo fim do Estado de Israel, Chomsky é proibido de entrar em Israel. Sua última tentativa, frustrada, foi há menos de dois meses.
Quem quiser se aprofundar mais nas bizarrices de Chomsky, indico o já mencionado livro The Anti-Chomsky Reader, escrito por Peter Collins, 71 anos, professor de Literatura, escritor e fundador da editora Encounter Books; e David Joel Horowitz, judeu, mestre em Literatura pela Universidade da Califórnia, escritor, ex-membro da chamada “Nova Esquerda” (New Left) dos anos 60, a qual abandonou no final dos anos 70. Seus pais foram antigos membros do Partido Comunista dos EUA. No livro, há alguns capítulos assinados também por gente como Steven J. Morris, professor de Política Externa da Universidade Johns Hopkins. O livro pode ser adquirido aqui.
Quem quer um resumo sobre algumas das principais sandices de Chomsky, indico o artigo do historiador australiano Keith Windschuttle, 68 anos, publicado em 2 de maio de 2003 na revista norte-americana Front Page Magazine. Keith é formado em História, Jornalismo e Ciências Políticas, escritor, ex-professor universitário e apresentador de um programa do canal de televisão pública australiano ABC. O artigo pode ser lido no original em inglês aqui.
Agora, quem quer colecionar aforismos e declarações tresloucados de Chomsky, indico a pesquisa de Paul Bogdanor, escritor britânico formado em Literatura na Universidade de Oxford. Seu pai, Vernon Bogdanor, é professor de Política em Oxford. Leia aqui um longo texto de Paul Bogdanor contendo “As 200 maiores mentiras de Noam Chomsky”, compiladas até setembro de 2007.
Enfim, como ativista político, Noam Chomsky é um bom lingüista, nada mais.