quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Sobre bom e mau jornalismo

Sei que muitos já devem ter lido na Grande Rede, mas não poderia deixar de fazer o registro, até porque falamos desse assunto em postagem recente: Lembram-se das manchetes de 6 e 7 de janeiro sobre o caso da morte de dezenas de crianças (todas meninas) em uma escola da ONU em Gaza? Os jornais impressos e televisivos da época noticiaram: “Israel bombardeia escolas da ONU”, "Israel arrasa escola em Gaza" etc. Bem, mas quais foram as fontes para essas matérias? Vocês as viram na televisão dando depoimentos em profusão naquela época, principalmente aos jornalistas das tevês árabes: John Ging, principal representante da ONU em Gaza, e alguns funcionários palestinos da ONU. Naquele dia trágico, Ging e seus colegas disseram diante das câmeras que Israel bombardeara criminosamente a escola.
Na época, o Exército de Israel os desmentiu imediatamente, informando que apenas respondeu com tiros a ataques de morteiros de militantes do Hamas que se escondiam não dentro do prédio da instituição, mas no terreno da escola, e que não jogou bomba alguma na escola. E os israelenses destacaram ainda: se houve mesmo alguma explosão dentro da escola, ela só poderia ter sido provocada pelos militantes do próprio Hamas ou por disparos que eventualmente possam ter atingido o inesperado: explosivos guardados pelo Hamas dentro do terreno da escola, porque (1) morteiros ou bombas de qualquer tipo o Exército de Israel não lançou sobre a instituição e (2) projéteis não produzem explosões, a não ser que acertem explosivos.
Pois bem, logo depois do ocorrido, como informamos neste blog, foram divulgadas informações na mídia internacional (e que infelizmente não foram reproduzidas pela mídia brasileira) de que as escolas da ONU em Gaza não só funcionavam mesmo várias vezes como depósito de armas do Hamas como o grupo terrorista também ditava o que deveria ser ensinado às crianças, e entre as matérias exigidas estava a propaganda de ódio contra os judeus. Inclusive, foi lembrado ainda que a maioria dos 9 mil funcionários das Nações Unidas em Gaza é de simpatizantes do Hamas e que o tal John Ging é o mesmo que, anos atrás, chegou a dizer a sandice de que os Estados Unidos arquitetaram e executaram os atentados de 11 de setembro de 2001 para atacar o Oriente Médio (sic)...
Mas, se você pensou que já era tudo, se enganou. Anteontem, a ONU reconheceu que Israel não chegou a atacar a escola e que o exército israelense lançou apenas um morteiro numa rua próxima; e que as dezenas de meninas mortas e apresentadas às câmeras dos fotógrafos como sendo “crianças mortas pelo ataque de Israel à escola” não foram atingidas dentro da escola, mas fora dela. Teriam sido, segundo a ONU, mortas num ataque de Israel a militantes do Hamas que estavam em uma rua perto da escola e em um lugar que Israel não sabia que estava abrigando crianças (conquanto aqueles que estavam usando o lugar para atacar o exército israelense com morteiros - os militantes do Hamas - soubessem muito bem que elas estavam ali). A declaração é de Maxwell Gaylord, coordenador de ações humanitárias da ONU na Palestina. Leia sobre a declaração dele, por exemplo, aqui: http://www.haaretz.com/hasen/spages/1061189.html
Que eu tenha percebido, no Brasil, só o jornal O Estado de São Paulo publicou uma nota, e ainda assim minúscula, divulgando a retratação da ONU. A pergunta, portanto, é inevitável: O que você acha dessa atitude “nobre” da mídia brasileira? O que você acha dessa tremenda “barriga”, como se diz na linguagem jornalística?
Isso é o que dá se basear apenas nos releases do Hamas para divulgar o que está acontecendo. São casos como esse que nos ajudam a medir a “imparcialidade” e a “isenção” do jornalismo brasileiro em relação ao conflito Israel-palestinos. E também exemplificam como se criam lendas em nossos dias.
Como assim?
Daqui a cinco anos, quando você conversar com alguém sobre essa ofensiva de Israel, seu interlocutor poderá te dizer em determinado momento: “E aquele ataque criminoso de Israel àquela escola cheia de meninas?” Aí você, que conhece a história, que não fica preso apenas ao que sai no jornal e na tevê do Brasil, que acompanha a apuração dos fatos, responderá: “Mas Israel não bombardeou escola nenhuma”. E o seu interlocutor vai olhar para você com aquele rosto de estranhamento e reprovação, como se você fosse um ignorante ou cínico. Isso porque, como a maioria esmagadora das pessoas, seu interlocutor pensa que o que não sai na Grande Mídia é porque ou não existe ou, no mínimo, não tem importância. Ele acha que basear-se apenas em uma fonte de informação midiática para formular todas as impressões sobre o mundo à sua volta é suficiente. Olvida, infelizmente, que, em questões como essa (que envolve ideologias), a mídia brasileira baseia-se propositalmente só nos releases de um lado e, quando ouve o outro, ainda tem o trabalho de editar as informações de forma a conduzir seus leitores a refletir sobre o assunto apenas em favor de um lado. Essa prática tem vários nomes, e um deles é péssimo jornalismo.
Estou dizendo com isso que no Brasil só há péssimo jornalismo ou que não devemos acreditar em mais nada que sai na imprensa? Claro que não. Muitos desses mesmos órgãos de imprensa que cometem esses erros (deliberados ou por arroubo) não poucas vezes fazem muito bom jornalismo. O problema surge apenas, volto a frisar, quando o assunto envolve simpatias ideológicas. Aí, quando isso acontece, seja no Brasil, seja lá fora, se faz, e muito, péssimo jornalismo.
Prosseguindo, eu disse (o título deste artigo indica) que iria falar também de bom jornalismo. Ei-lo: uma entrevista do ator e produtor latino Benício del Toro à jornalista Marlen Gonzales ao Canal 41 Notícias, de Miami, acerca do filme que Benício produziu e estrela sobre a vida de Che Guevara. Trata-se de uma fita que exalta Che como uma referência positiva, um herói, um homem bom etc, omitindo descaradamente todas as atrocidades que cometeu. Na entrevista, a jornalista lembra que lançar um filme exaltando Che nos Estados Unidos, onde está a maior comunidade de cubanos fora de Cuba, é quase como lançar um filme em Israel ou nos próprios Estados Unidos sobre Hitler para ofender os 15 milhões de judeus e a memória das famílias dos 6 milhões de judeus mortos na Segunda Guerra Mundial. Ela ainda pergunta se Benício sabia que Che dirigiu o primeiro campo de concentração do continente americano, que matou e mandou matar milhares de pessoas, que só nesse campo de concentração que dirigiu fuzilou mais de 400 cubanos (90% deles eram pessoas cujo único crime que cometeram foi discordar ideologicamente do regime) e cita uma frase estarrecedora de Che sobre a importância de se chacinar inimigos ideológicos sem pena. Del Toro simplesmente emudece, fica no "...Bem...Euuuuuuu...Éeeeee..." ou diz "Não sabia". Passou sete anos de sua vida estudando a vida de Che e... não sabia! Ao final da entrevista (ou diria aula), a jornalista entrega um livro sobre Che para que Benício del Toro aprenda história.
Para quem não viu, o link para a entrevista é este: http://br.youtube.com/watch?v=IZGTV6FbBXM&feature=related. Isso é um exemplo de bom jornalismo.

16 comentários:

André Quirino disse...

Pr. Silas, a Paz do Senhor!

Parabéns por mais essa postagem. Um ótimo alerta para não nos limitarmos à mídia brasileira, muitas vezes, cheia de imparcialidade. Que Deus continue te abençoando.

Fique na paz. Abraço!

André Gomes Quirino (13 anos, Linhares - ES)
www.esperancasemlimites.blogspot.com

Anônimo disse...

Pastor Silas, a paz do Senhor!

Bastante esclarecedora esta postagem sobre o suposto ataque de israel a escola da ONU em Gaza. Sobre o vídeo, que ridícula a situação do entrevistado! Também como é que ele faz um filme louvando um facínora como Che Guevara?

Abraço e um beijo na Lília!

Silas Daniel disse...

Caro André, a Paz do Senhor!

Obrigado pelas palavras de apreço e motivação. Fiquei surpreso ao saber a sua idade. Que bom saber que, já muito cedo, você tem se dedicado a ampliar e aprofundar o seu conhecimento em relação às coisas de Deus e a outros temas prementes que permeiam a sociedade hodierna. Isso é muito bom!

Um abraço estendido a todos os irmãos de Linhares!

Silas Daniel disse...

Cara Andrea, a Paz do Senhor!

Confesso que estava preparando até outro artigo para publicar aqui esta semana, mas a relevância dessa informação sobre o episódio da escola da ONU em Gaza fez com que adiasse a publicação do artigo para que os leitores que eventualmente não tiveram contato com essa informação se cientificassem dela aqui. Esclarecimentos como esse são importantíssimos. É verdade que blogs com muito mais audiência que este, como o do jornalista Reinaldo Azevedo, já haviam publicado o assunto, mas não poderia me furtar de fazê-lo também, uma vez que tratamos deste assunto em postagem recente e trata-se de uma informação que traz mais luz a (e exemplifica contundentemente) tudo o que já dissemos sobre o assunto por aqui.

Quanto ao vídeo, é uma amostra eloqüente do quanto a "esquerda chique" de Hollywood é tola. Como Benício del Toro, há centenas de outros atores famosos que defendem causas absurdas por pura ignorância. Aliás, o ator Mickey Rourke, em entrevista a uma revista britânica em janeiro, reconhece: "Penso que os atores devem calar a boca sobre política porque eles tendem a ser moralistas ignorantes, sempre prontos a adotar a moda liberal do momento". É isso.

Abraço!

Marcelo Oliveira disse...

Caro pr. Silas, a paz do Senhor!

Mais uma vez a imprensa sensacionalista estava errada. Acompanhei na época como julgaram Israel e agora finalmente tiveram que admitir a farsa patrocinada e montada pelo Hamas.

Infelizmente, agora não desmentem com o mesmo impeto que fizeram ao tentar caluniar Israel.

Postei também em meu blog uma matéria que relata esta informação.

Que o Senhor continue te abençoando e dando vitória! (1 Co 15.58)

Silas Daniel disse...

Caro Marcelo, a Paz do Senhor!

É isso aí. Se a Grande Imprensa não divulga a verdade porque não lhe interessa, cabe a nós, que tivemos acesso às informações omitidas, trazê-las ao lume para esclarecer ao maior número de pessoas a verdade dos fatos, livrando-as de terem sua visão turbada pelas trevas da onda anti-semita.

No mais, que Deus também continue abençoando o irmão. Abraço!

Sidnei Moura disse...

Pr. Silas,

Importantíssima sua reflexão sobre o mal jornalismo em relação aos conflitos no Oriente Médio. Não é de agora que os detentores do poder midiático procuram distorcer a realidade. lembra do conflito entre Israel e o Líbano? Pois bem, naquela ocasião repórteres fotográficos da Reuters de origem palestina tiveram a capacidade de manipular digitalmente centenas de imagens do conflito com a finalidade de "convencer" a opinião pública de que a ofensiva Israelense era muito pior do que se imaginava. Para isso, eles manipularam as quantidades de misseis lançados nas imagens, a força de colunas de fumaça dos alvos atingidos que subiam aos céus, além de diversas outras "picaretagens bem pensadas". E o que dizer então das imagens "encenadas", onde corpos em meio aos destroços não apresentavam nenhum sinal de ferimento ou poeira, entre outras. O papel da mídia é informar bem, mas a tirania tem feito o contrário.

Abraço!

Sidnei Moura
www.sidneiemoura.blogspot.com

Anônimo disse...

E ainda a propaganda do PT faz de Che, entre jovens e adolescentes, uma figura de "Roliude", como se ele fosse uma estrela de cinema. Já me cansei de ouvir garotinhas expressarem sua admiração pelo cara, taxando-o de lindo, fofinho, etc. e a tolice de dizer q quando crescerem querem ser socialistas!aff

Júnior

Unknown disse...

Pr. Silas Daniel, a paz!

Fiquei impressionado com a firmeza e coragem da jornalista Marlen Gonzales. Del Toro ficou simplesmente sem palavras!
Sobre a “retratação” da ONU na acusação de que Israel bombardeou a escola, só fiquei sabendo por causa do blogueiro Reinaldo Azevedo (exemplo de bom jornalista). Infelizmente somos privados de informações relevantes, exemplo: Durante a campanha de McCain e Obama, os jornais brasileiros só reproduziam artigos dos jornais “The New York Times”, “Washington Post” e o “Los Angeles Times”, que eram claramente pró-Obama. Você só lia os mesmos argumentos, como aquele papo furado do “fator racismo” que poderia ser manifesto nas urnas.
Talvez a cobertura brasileira do conflito Israel versus Hamas só não foi pior por causa da comunidade judaica brasileira. Pois em alguns artigos de jornais impressos líamos textos com senso de realidade.
Parabéns pelo texto, pois nos esclarece cada vez mais sobre o que nos é omitido.

Anônimo disse...

Pastor Silas Daniel, parabéns pelo blog. Seus posts são enriquecedores. Admirável sua forma não-apelativa de informar, em especial, o público evangélico. Digo isto, pelo fato de muitos terem se interessado mais em confusões e fofocas do que com notícias que agregam valor ou expõem os princípios bíblicos de transformação espiritual e social.
Tive o prazer de conhecer-lhe pessoalmente durante evento em Abreu e Lima (PE), e confesso que fiquei admirado com sua simpatia.
Na ocasião, apresentei-lhe o meu projeto de Blog (está engatinhando). O senhor me deve uma visita!!! (risos) Faça sua avaliação, por favor. Continue firme!

Sóstenis Moura
sostenismoura@ig.com.br

www.embaixadoressiao.blogspot.com

Silas Daniel disse...

Caro Sidnei,

Bem lembrado. O episódio das fotos montadas e encenadas que circularam meio mundo como se fossem verdadeiras, com o propósito de denegrir Israel por ocasião do ataque ao Hezbollah no Líbano, foi uma amostra gritante de como se faz hoje em dia muito "jornalismo" (a coisa é tão grotesca que prefiro chamar de "jornalismo" - aspeado mesmo - do que simplesmente de mau jornalismo) quando o fato envolve Israel.

Abraço!

Silas Daniel disse...

Caro Junior,

A exaltação que se faz a Guevara, a Fidel e à ditadura em Cuba é uma das coisas mais nojentas que ocorrem aqui na América Latina, inclusive (é triste dizer isso) até mesmo em textos de alguns padres e pastores no Brasil. No caso dos jovens de que falou, que estampam orgulhosamente camisas, tatuagens e pôsteres de Guevara, o que falta a eles é só uma coisa: informação. Já quanto aos outros, o negócio é mais sério...

Abraço!

Silas Daniel disse...

Caro Gutierres, a Paz do Senhor!

No Brasil, os únicos que vi mencionarem a retratação da ONU foram o jornal "O Estado de São Paulo" (numa nota minúscula), o Reinaldo Azevedo no blog dele dentro do site da revista "Veja" e a própria revista "Veja" em sua seção de frases da semana e no artigo de Reinaldo Azevedo publicados em sua última edição. Não vi em nenhum outro canto. Nem na televisão. Por quê? Essa verdade incomoda? Ora, a verdade liberta! - mas o problema é que tem muita gente na Grande Mídia que quer que as pessoas continuem a viver em densas trevas, ou seja, que continuem a pensar seguindo a matiz ideológica que pregam, que permeia a Grande Mídia. Aí, para quem pensa assim, a verdade não é tão importante. Na verdade, muitas vezes é uma inimiga. O caso Obama, que você bem frisa, é outro bom exemplo.

Abraço!

Silas Daniel disse...

Caro Sóstinis,

Obrigado por suas palavras de apreço e motivação. Que Deus também continue abençoando-o em tudo! Breve farei uma visita ao seu blog.

Forte amplexo!

Anônimo disse...

sou reporter cinematografico da tv recors em cuiaba mt, e quero parabeniza-lo pelo artigo, diariamente saio as ruas para fazer reportagem, e a maioria das vezes reporteres não checam, o que a assessoria passam para a redação,e isso é em todo o Brasil,é certo que há alguns que vão a fundo , mas sempre é barrado pelos donos das emissoras, que para ganhar audiencia e aumentar seus lucros colacam o que quizer para os leitores, telespectadores, e mas uma vez te parabenizo, porque ainda existem jornalista serios nesse pais, que tras a tona os fatos como eles são verdadeiramente . posso dizer que Deus tem se agradado do modo como vc, tem colocado as suas opinioes. ASS.Edilson Paulo- Reporter Cinematografico, Cuiaba MT

Silas Daniel disse...

Caro Edilson,

Obrigado pelo seu depoimento e pelas palavras de apreço e motivação. Infelizmente, há muita gente que ainda acredita ingenuamente que tudo que a Grande Mídia diz é verdade, ignorando os interesses ideológicos que a permeiam e conduzem a um procedimento deliberadamente equivocado na hora de tratar e apresentar determinadas matérias que envolvem suas concepções ideológicas - além, claro, dos casos em que as matérias envolvem também seus interesses financeiros. Por isso, sua participação neste espaço é um importante depoimento.

Um abraço e que Deus o abençoe!