sexta-feira, 2 de maio de 2008

De que lado realmente está Phillip Yancey

Há um antigo provérbio latino que diz: “A barba não faz o filósofo”. Ou seja, nem sempre aqueles que têm uma aparência que se encaixa no perfil básico que criamos em nossa mente para identificar determinado tipo de pessoa são de fato exemplares desse tipo de pessoa. Como a vida tem demonstrado inúmeras vezes, a aparência que nos satisfaz à primeira impressão pode não representar fielmente a verdade que muitas vezes só se vê plenamente além dessa aparência. Em outras palavras, para que a aparência nunca nos conduza ao engano, é preciso sempre olhar além das superfícies.
Aplicando aos discursos: nem sempre aquela pessoa que tem um discurso parecido com o nosso crê realmente em tudo o que cremos. Ela pode, por exemplo, divergir doutrinariamente em pontos periféricos, o que não é grave; mas pode também divergir em pontos doutrinários fundamentais, e aí repousa o perigo. E para perceber essa divergência é preciso ir além das aparências, além da superfície, conhecer o verdadeiro pensamento da pessoa quanto a pontos fundamentais, se não fatalmente nos encontraremos trocando o verdadeiro pelo falso, o precioso pelo espúrio.
Nem sempre, por exemplo, a pessoa que fala de “amor” está falando de amor da mesma forma que eu e você cremos no amor à luz da Bíblia. Nem sempre quem fala de “graça” pode estar se referindo à graça bíblica. Nem sempre quem se refere ao Evangelho está realmente afirmando verdades sobre o Evangelho. E isso não é difícil de descobrir. É só comparar o que a pessoa diz com tudo o que a Bíblia diz sobre o assunto e logo descobrimos se trata-se ou não do verdadeiro amor, da graça bíblica e do Evangelho como o encontramos nas Sagradas Escrituras.
Pensei nesse assunto nos últimos dias ao me dar conta de que poucos cristãos no Brasil estão apercebidos de quem é quem entre os atuais pensadores-ícones do meio evangélico mundial. Há, por exemplo, muita gente confundindo cristãos liberais com cristãos conservadores e, justamente por isso, sendo inoculados desapercebidamente por princípios liberais que são-lhes apresentados sutilmente, camufladamente. Aliás, esta é uma marca do novo liberalismo teológico: mostra-se, via de regra, em trajes atraentes; sob o manto, inclusive, de um amor desvirtuado.
Poderia citar vários exemplos, mas, para que esta postagem não seja quilométrica, vou citar apenas um dos casos mais populares: Phillip Yancey.
Há muita gente que pensa que Yancey é um cristão evangélico conservador, mas ele não é. Já foi, mas hoje está longe disso.
Por exemplo: Phillip Yancey é declaradamente condescendente com o homossexualismo. Não acredite no que eu estou dizendo. Leia você mesmo: http://www.whosoever.org/v8i6/yancey.shtml. Este é o link para uma entrevista que Philip Yancey deu em 2004 para Candace Chellew-Hodge, líder de uma igreja gay nos Estados Unidos e fundadora da Whosoever, uma revista eletrônica para gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros “cristãos” (sic). Trata-se de uma publicação que defende que “homossexualismo não é pecado”. Candace, inclusive, afirma que “a homossexualidade, como conhecemos hoje, não é condenada em nenhum lugar da Bíblia”.
Na tal entrevista, intitulada Amazed by grace (“Maravilhado pela graça”), Yancey afirma o que se segue: “Como tenho freqüentado igrejas de lésbicas e gays, fico triste porque a igreja evangélica em sua maioria não tem espaço para os homossexuais. Tenho encontrado maravilhosos e compromissados cristãos que freqüentam a MCC [Metropolitan Community Church, uma igreja organizada especificamente para homossexuais] e gostaria que as outras igrejas se beneficiassem da fé desses cristãos gays”.
Yancey ainda considera as igrejas gays um exemplo para todas as outras: “Já estive em igrejas de gays e lésbicas cujo fervor e compromisso deixariam a maioria das igrejas evangélicas mortas de vergonha”.
Na mesma entrevista, perguntado sobre sua amizade com um dos líderes da igreja gay nos EUA, chamado Mel White, ao qual Yancey dedica um dos capítulos de seu livro Maravilhosa Graça, ele responde: “Durante anos, Mel White foi um dos meus amigos mais íntimos antes que ele me revelasse sua orientação sexual. A propósito, ele ainda é meu amigo. (…) Quando as pessoas me perguntam como é que consigo manter amizade com um pecador como Mel, respondo perguntando como Mel consegue manter amizade com um pecador como eu. Mesmo se eu concluir que toda conduta homossexual é errada, como muitos cristãos conservadores fazem, ainda sou compelido a responder em amor”. Note: “Mesmo se eu concluir que toda conduta homossexual é errada...”. E não é, à luz da Bíblia? (Gn 18.20; 19.4,5; Lv 18.22; Rom 1.26.27; 1Co 6.10).
Mel White é líder do grupo homossexual radical Soulforce, que faz pressão para que instituições evangélicas conservadoras abandonem suas posições bíblicas e incorporem a agenda homossexual. Mesmo assim, e apesar do que dizem 1 Coríntos 5.11 e Tito 3.10 (leia os dois textos), Yancey continua sendo seu amigo. Yancey deveria admoestá-lo e, se White não aceitasse de forma nenhuma admoestação, deixar de dar-lhe apoio. Apoio só se White quisesse mesmo ajuda. Porém, diferentemente, Yancey não o admoestou e ainda apóia o movimento de Mel White. Desobedece 1 Coríntios 5.11 e Tito 3.10.
Jesus visitava publicanos e pecadores, mas não condescendia com seus pecados. Ele pregava o arrependimento e a transformação de vida (Mc 1.14,15). Ele não apoiava as pessoas em seus pecados. Vide, por exemplo, Zaqueu (Lc 19.1-10) e a mulher adúltera (Jo 8.1-11). “Não peques mais” (Jo 8.11b).
Por que Yancey não faz isso? Por que não ensina que homossexualismo é pecado e que Deus pode resgatar a heterossexualidade dos que se vêem hoje presos pelo homossexualismo? Porque ele crê que as pessoas nascem gays, ou seja, que é Deus quem as cria assim. Mais uma vez, não acredite no que eu digo. Leia você mesmo.
Em recente entrevista de Yancey à revista Enfoque Gospel (http://www.revistaenfoque.com.br/index.php?edicao=50&materia=152), ele assevera: “Procuro não fazer um julgamento rígido sobre [o homossexualismo], porque, a partir do momento em que você julga, você perde metade das pessoas que devem ouvir o que tem a dizer. Falo do que tenho certeza, e tenho certeza da maneira como devemos tratar as pessoas que fazem as coisas de uma forma diferente da que a gente faz e até mesmo as pessoas que fazem coisas que desaprovamos fortemente. É isso que significa graça. Se alguém é igual a mim, não preciso de graça. Eu preciso da graça para quem é diferente de mim. Então, o que aprendi com o meu amigo foi que ele teve de ter muita graça em relação a mim, também porque eu trabalho para a revista Christianity Today, que é uma revista que faz afirmações contra o homossexualismo. Então, é tão difícil para o Mel White ser meu amigo quanto é para mim ser amigo dele. Ao contrário de algumas pessoas, não acho que o homossexualismo seja uma opção, que Mel White e outras pessoas simplesmente decidiram ser homossexuais. É algo que está profundo na identidade dele, assim como a minha heterossexualidade é profunda em minha identidade. Não acordei pensando: ‘Acho que eu vou ser heterossexual’. Eu sou! Penso que com o Mel é a mesma coisa”.
É por isso que, na entrevista à revista eletrônica Whosoever, Yancey afirma: “Obviamente [ou seja, para Yancey, o que ele vai dizer a seguir é óbvio demais], se uma igreja está dizendo que você precisa abandonar a orientação sexual [deixar de ser homossexual], essa igreja precisa receber educação”. Não é isso que Paulo afirma em 1 Coríntios 6.10,11.
E sobre a ordenação de pastores gays, Yancey, corroborando que ortodoxia bíblica não é mesmo com ele, declara na mesma entrevista: “No que se refere a assuntos de doutrinas, como a ordenação de pastores gays e pastoras lésbicas, fico confuso… Francamente, não sei a resposta para essas questões”. Tal declaração não é nenhuma surpresa, pois vem de alguém que afirma que ser gay não é escolha, mas, sim, predestinação genética.
Por tudo isso, repito: preocupa quando vemos que muitos evangélicos no Brasil ainda não estão apercebidos que Yancey e outros pensadores-ícones dos EUA em nossos dias são cristãos liberais. Muitos ainda os têm como conservadores. E o engraçado é que o próprio Yancey fica impressionado que muitos cristãos ainda não conseguiram ver que ele já não está do lado de cá há muito tempo. Ele está consciente da sua nova posição, mas muitos conservadores ainda não estão conscientes da nova posição dele e continuam lendo seus escritos como se ele fosse um conservador, o que deixa o próprio Yancey perplexo. Em entrevista à revista Sojourner, ele fez esse comentário: “Eu mesmo me surpreendo com o fato de que consigo escapar de críticas e rejeições pelas coisas que escrevo. Quando enviei meu manuscrito de Maravilhosa Graça, disse para minha esposa Janet: ‘Acho que provavelmente este é o último livro que o mercado evangélico vai tolerar de mim’. Meu livro tem um capítulo inteiro sobre Mel White, que é agora um ativista gay, e tem um capítulo inteiro sobre Bill Clinton, que não é o presidente mais favorecido dos evangélicos”.
Sobre Mel White, já falamos. Já acerca do apoio (fervoroso) de Yancey a Clinton, citemos alguns fatos: quando o presidente mais pró-aborto e pró-homossexualismo de toda a história dos EUA (apesar de evangélico batista) havia adulterado várias vezes e, em uma delas, com uma estagiária da Casa Branca com quem praticava sexo oral no Salão Oval (relacionamento sobre o qual Clinton mentiu em declaração pública), Yancey elogiou Clinton em um de seus artigos na revista Christianity Today, chamando-o de “um homem de fé num mundo que não tem consideração pela fé”. Depois de tudo e em meio a tudo, Yancey via Clinton como referência de vida cristã. Interessante que quando nomes como Jimmy Swaggart (só para citar um caso bem famoso) e outros cometeram torpezas, ninguém os chamou, enquanto em pecado, de "homens de fé num mundo que não tem consideração pela fé" ou de referências no meio cristão. Clinton, porém, mesmo depois de tudo aquilo e de mentir publicamente diante de toda a nação, foi exaltado por Yancey como uma referência cristã. O mesmo Clinton que, junto com o também batista Jimmy Carter (que já afirmou não crer nem na plena inspiração divina das Escrituras nem na infalibilidade das Escrituras), fundou, com pastores dissidentes, uma convenção nacional de igrejas batistas liberais para tentar fazer frente à conservadora Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos.
Em artigo publicado na Touchstone Magazine (touchstonemagazine.com) e intitulado A Feel-Good Sacrament, James M. Kushiner afirma que, durante o painel de discussão de uma conferência sobre C. S. Lewis, no qual alguns do painel haviam criticado os evangelicalistas americanos por combaterem tudo nas “guerras culturais”, desde o aborto à retirada das orações nas escolas até o homossexualismo, Phillip Yancey, dirigindo-se a mais de 600 pessoas ali presentes, na maioria evangélicos, "concluiu suas observações informando-nos que havia tido o privilégio de se encontrar particularmente com o presidente; em seguida, ele disse que Clinton havia compartilhado com ele um ponto importante, ou seja, que 'existe uma diferença entre moralidade particular e moralidade pública'". Arremata Kushiner: "Essa peça de sabedoria foi deixada em nossos círculos por um líder evangélico [Yancey] como uma palavra digna de toda aceitação, embora tendo partido de um presidente com óbvio interesse em separar as duas".
Em artigo publicado na revista Christianity Today de outubro 2003, sob o título Holy Sex, Phillip Yancey afirmou que, “em certo sentido, nós jamais teremos tanta semelhança com Deus como no ato sexual”, e ainda mencionou ter visto pornografia e ter sentido alguns tipos ilícitos de luxúria. E ele não se referiu a tais experiências com arrependimento ou remorso, nem as descreveu como sendo pecaminosas. Ao contrário, ele as chamou apenas de “técnicas desconexas de sexo”.
Aí surge a pergunta: O que fez Yancey mudar, tornando-se um liberal? Em parte, isso se explica pelo tipo de mentoria que Yancey adotou para sua vida nos últimos anos, em momentos de crise espiritual que sofreu. Alguns de seus novos mentores são Brennan Manning e Frederick Buechner, que "transformaram em libertinagem a graça de Deus" (Judas v4), pois ambos defendem, por exemplo, que homossexualismo não é pecado.
Yancey fala constantemente do católico Brennan Manning como referência para sua vida. Inclusive, falou disso quando esteve no Brasil há pouco tempo, como é dito na apresentação do livro O evangelho maltrapilho, de Manning (http://www.mundocristao.com.br/adicionais/40068.htm). Em janeiro de 2005, em entrevista ao site Interference, de fãs da banda U2 (cujo vocalista, Bono Vox, diz simpatizar com o movimento Igreja Emergente), Yancey assevera que seu autor favorito, um de seus mentores, é Frederick Buechner (http://www.interference.com/stories/id110235.html). Buechner é pastor e teólogo da PCUSA, denominação presbiteriana liberal dos Estados Unidos. Essa denominação “abençoa” uniões homossexuais. Uma das afirmações mais famosas de Buechner é a que se segue: “Dizer que moralmente, espiritualmente e humanamente a homossexualidade é sempre má parece tão absurdo quanto dizer que nos mesmos termos a heterossexualidade é sempre boa ou vice-versa” (http://jmm.aaa.net.au/articles/13247.htm). Se seguirmos Buechner, teremos de afirmar que Paulo e o próprio Deus cometeram esse “absurdo” (Lv 18.22; Rm 1.26,27; 1Co 6.10).
Outros posicionamentos liberais de Phillip Yancey nos últimos anos têm sido a defesa do ecumenismo em artigos (http://www.christianitytoday.com/ct/2004/november/18.120.html) e debates, e do Teísmo Aberto, defendido em livros como Decepcionado com Deus. Inclusive, nesta obra, ele declara que Deus não tem nada a ver com a vida e que ele, Yancey, é estóico: “Aprendi, primeiro com a doença de minha esposa e, em seguida, através de um acidente, a não confundir Deus com a vida. Sou um estóico. Estou tão transtornado com o que me aconteceu como qualquer pessoa poderia estar. Sinto-me livre para amaldiçoar a infelicidade da vida e atirar toda a minha dor e raiva... Mas creio que Deus se sente do mesmo modo sobre este acidente... dolorido e zangado. Não O censuro pelo que aconteceu... Aprendi a enxergar, além da realidade física neste mundo, a realidade espiritual. Temos a tendência a pensar ‘A vida deveria ser bela porque Deus é belo’. Mas Deus não é a vida”. Sobre como o estoicismo não tem nada a ver com a Bíblia, indico o livro Cristo e o Sofrimento Humano, de E. Stanley Jones.
Não estou dizendo com isso que você deve agora jogar fora todos os livros que Phillip Yancey escreveu. Não! Mas, ao lê-los, faça-o agora consciente de que aquele Phillip Yancey que escreveu bons livros nos anos 70 e 80 (como Deus sabe que sofremos) não é mais o mesmo. De lá para cá, ele mudou muito. E, infelizmente, doutrinariamente falando, não para melhor.